Governadora de Roraima fecha acordo com Maduro para repatriar venezuelanos

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: O GLOBO

Suely Campos, candidata à reeleição, esteve em Caracas; estado brasileiro vai providenciar ônibus para levar imigrantes de volta ao país.

 

A governadora de Roraima, Suely Campos, assinou um acordo com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para ajudar o governo do país a repatriar imigrantes para a Venezuela. O acordo foi negociado na quinta-feira durante um encontro na capital venezuelana. Também ficou acertado que o governo Maduro fará manutenção no Linhão de Guri, que fornece energia da Venezuela para Roraima, para evitar novos apagões no estado.

 

Com o acordo, Roraima disponibilizará ônibus para levar os venezuelanos até a cidade de Pacaraima, na fronteira. De lá, eles seguirão viagem com apoio do governo de Maduro, dentro do programa chamado Volta à Pátria.

 

A repatriação com o apoio logístico do governo de Roraima deve começar na próxima semana. De início, cerca de cem venezuelanos devem regressar ao seu país. Todo o processo será acompanhado pelo Consulado da Venezuela em Roraima. O órgão vai fazer listas com nomes de imigrantes que quiserem ser repatriados.

 

"Com essa parceria, nós vamos oferecer transporte até a fronteira para levar aqueles venezuelanos que queiram voltar ao país", disse Suely Campos, que é candidata à reeleição pelo PP. — Depois da fronteira, [as providências] ficarão com o governo da Venezuela. Na semana que vem já vamos implementar a primeira saída deles.

 

Em nota oficial, o governo de Roraima anunciou "o compromisso na execução do programa Vuelta a La Pátria, através do qual o governo venezuelano está repatriando seus nacionais que migraram para Roraima e que queiram de forma voluntária retornar para a Venezuela".

 

 

Maduro comemora no twitter   

 

Maduro publicou no Twitter que a reunião com Suely Campos tinha sido produtiva e que os dois haviam chegado a acordos importantes.

 

A reunião de Campos com o presidente venezuelano foi intermediada pelo Consulado da Venezuela em Roraima. A governadora viajou junto com uma comitiva de Boa Vista a Caracas em uma aeronave do governo venezuelano. Toda a viagem oficial foi bancada pelo país vizinho, informou a Secretaria de Comunicação do estado.

 

O governo de Roraima afirmou que o apoio a Maduro na repatriação de venezuelanos foi uma solução encontrada para minimizar o impacto da presença dos imigrantes nos serviços públicos do estado.

 

No início do mês, um grupo de cem imigrantes já havia deixado Boa Vista e voltado à Venezuela em um ônibus fretados por Maduro. A saída deles do estado ocorreu em meio a episódios de xenofobia, nos quais brasileiros atacaram imigrantes venezuelanos em Pacaraima. Vinte e cinco indígenas da etnia warao também retornaram a seu país com o apoio do governo venezuelano.

 

De acordo com o Exército, há 5 mil imigrantes venezuelanos em nove abrigos em Boa Vista. Em Pacaraima, perto da fronteira, existe um acampamento que é considerado um local de triagem, e não de permanência, além de um abrigo para indígenas warao. Até hoje, foram levados para outros estados (interiorizados, no jargão oficial) 1.872 venezuelanos que chegaram ao Brasil por Roraima. Nesta semana, estava previsto que mais 90 seriam enviados para Manaus, Rio de Janeiro e Recife.

 

Apesar da tensão provocada pela chegada de imigrantes a Roraima, o Brasil não é o país que mais recebeu venezuelanos no período recente. Entre 2017 e 2018, 127.778 venezuelanos entraram no Brasil pela fronteira terrestre, de acordo com o governo federal. Desse total, porém, 68.968 foram para outros países, a maioria também por via terrestre. Segundo o IBGE, há atualmente 30,8 mil venezuelanos vivendo no Brasil.

 

Enquanto isso, a Colômbia abriga atualmente cerca de 870 mil venezuelanos, enquanto o Peru, 400 mil, e o Equador, cerca de 110 mil.

 

 

Fornecimento de energia

 

Suely Campos também disse que, durante a reunião, Maduro se comprometeu a fazer manutenção no Linhão de Guri, que fornece energia para Roraima. Nos últimos dias, em razão da falta de cuidados na linha de transmissão, o estado enfrentou uma série de apagões. Foram contabilizados nove desligamentos somente em um fim de semana.

 

"O presidente Nicolás Maduro garantiu que vai iniciar imediatamente a manutenção na rede elétrica. Assegurou também que vai melhorar a qualidade da nossa energia e prorrogará o contrato até que tenhamos a construção do Linhão de Tucuruí", afirmou Suely.

 

Roraima é o único estado brasileiro que não está ligado ao sistema energético nacional. O governo brasileiro não paga uma parcela de US$ 33 milhões, prevista em um contrato que vigora desde 2001 entre a Eletronorte e a venezuelana Corpoelec. O governo Temer alega que o pagamento não é feito em razão das sanções econômicas dos Estados Unidos contra a Venezuela, que impedem depósitos em dólar.

 

No dia 11 deste mês, o ministro da Defesa brasileiro, Joaquim Silva e Luna, se reuniu na Venezuela com seu colega venezuelano, Vladimir Padrino, e disse ter recebido a garantia de que não haveria corte na energia fornecida a Roraima:

 

"O presidente Temer me havia pedido para tratar com ele sobre o assunto da energia elétrica, que nos interessava. Eles garantiram que não vai ter corte nenhum", contou Luna na época ao GLOBO.

 

"Eles sabem que não conseguimos fazer o pagamento por conta do embargo econômico. Até brincou: "Não vai ter corte de energia e nunca vai ter corte nas nossas relações. Não é por causa disso que a Venezuela vai interromper o fornecimento de energia".

 

 

1,6 milhão deixaram a Venezuela  

 

De acordo com a ONU, 1,6 milhão de venezuelanos deixaram o país desde 2015, em um êxodo provocado sobretudo pela escassez de alimentos e medicamentos na Venezuela. O período marcou o agravamento da crise política, econômica e social do país, cuja inflação neste ano deve chegar a 1.000.000%, segundo estimativa do FMI.

 

 

A lista de acordos firmados por Campos e Maduro

 

 

Energia 

 

Compromisso do governo da República Bolivariana da Venezuela de realizar a manutenção do Linhão de Guri e melhorar o fornecimento da energia hidrelétrica para Roraima.

 

 

Linhão de Guri

 

Compromisso do governo da República Bolivariana da Venezuela de manter a aliança energética de fornecimento de energia através do Linhão de Guri.

 

 

Repatriação 

 

Compromisso do governo do Estado de Roraima de apoiar o Consulado da República Bolivariana da Venezuela, sediado em Boa Vista, na execução do programa “Vuelta a La Pátria”, através do qual o governo venezuelano está repatriando seus nacionais que migraram para Roraima e que queiram de forma voluntária retornar para a Venezuela.

 

 

Intercâmbio comercial 

 

Compromisso do governo da República Bolivariana da Venezuela e do governo do Estado de Roraima de estreitar relações comerciais e de produção em vários setores para fortalecer a economia do Norte do Brasil e do Sul da Venezuela.

Compartilhe essa matéria: