Pássaros aprendem “línguas estrangeiras” para sobreviver

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Biólogos demonstram que espécie de ave australiana compreende cantos de alerta de outras espécies para poder escapar de possíveis predadores.

 

Um passo em falso, uma chacoalhada nos galhos, um ponto no horizonte avançando e aumentando em alta velocidade na sua direção. Aves podem facilmente identificar sinais como esses como uma ameaça e, instintivamente, “tocar o alarme” para avisar sua comunidade que há perigo à espreita.

 

Mas como já imaginavam os biólogos, as aves não dependem só a experiência do perigo para entender que há ameaças ao seu redor. Um estudo recente, publicado pela Current Biology, mostra que uma espécie de ave encontrada na costa leste da Austrália desenvolveu a habilidade extra de compreender o canto de alarme de outras espécies de pássaros. Assim, ela não precisa depender do contato direto com a ameaça para evitá-la, porque escutou outro grupo de aves, de espécie distinta, avisando que ela existe.

 

A espécie Malurus cyaneus foi estudada por biólogos de universidades australianas e do Reino Unido. De acordo com o estudo, elas não precisam experimentar a ameaça diretamente pois conseguem entender cantos “estrangeiros”. Ou seja, não precisam chegar a ver o predador ou mesmo a espécie “estrangeira” que canta o aviso para entender e fugir sob o anúncio de perigo.

 

Essa capacidade de entender a ‘língua’ de outras espécies já era esperada pelos cientistas, mas esse estudo é um dos primeiros a demonstrar esta habilidade. “Se elas aprendessem apenas na presença do predador, isso seria bastante perigoso”, diz Andrew Radford, co-autor do estudo e biólogo da Universidade de Bristol. “A capacidade de aprender ao associar sons com o significado faz sentido, biologicamente falando.”

 

No estudo, as aves Malurus cyaneus foram expostas aos alarmes de perigo reproduzidos por um computador (sem a presença da espécie que estava cantando) e por um grupo de Acanthiza uropygialis (com sua presença).

 

Durante a primeira exposição aos sons, os Malurus cyaneus não reagiram. Mas com o passar dos dias, e associando com outros sons familiares, as aves procuraram por abrigo em 81% das vezes enquanto ouviam os outros pássaros; e 38 das vezes quando ouviram o som gerado pelo computador.

 

“Cantos de alarme avisam sobre predadores, mas aqui os pássaros aprenderam o significado do chamado  através de avisos de outras espécie, sem precisar ver o predador”, afirma Robert Magrath, biólogo da Universidade Nacional da Austrália. “Isso significa que este é um tipo de ‘aprendizado social’, onde indivíduos aprendem com os outros ao invés de aprender com a experiência direta. Neste caso, é até mais indireta, porque eles só precisaram ouvir e não ver os pássaros que cantavam os familiares alarmes.”

 

Animados com o resultado, os pesquisadores acreditam que essa característica é comum entre a maioria das aves. “As Malurus cyaneus são inteligentes, mas elas não são a espécie mais inteligente de todas”, diz Dominique Potvin, líder do estudo. “Então, eu acho que nós seguramente podemos generalizar estes resultados à outros pássaros, especialmente outros pássaros canoros[cantantes].”

 

Outros estudos têm revelado o quão complexo esse sistema de cantos pode ser. Os chapins, aves encontradas na América do Norte, por exemplo, podem indicar o tamanho do predador que se aproxima através do seu canto. Além disso, muitas espécies podem escutar outros tipos de pássaros, ou até de tâmias (um roedor da família dos esquilos), e entender que há perigo na vizinhança.“Nós sabíamos antes que alguns animais por traduzir o significado de ‘línguas estrangeiras’ de outras espécies, mas nós não sabíamos como o ‘aprendizado da língua’ surgia”, explica Radford. Segundo o estudo, não se trata apenas de uma habilidade inata, mas também adquirida através da convivência com outras espécies de aves e com a associação do alarme com a presença do predador.

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