Criogenia já é utilizada na vida real: conheça como funciona a técnica

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

O congelamento de cadáveres ainda custa muito dinheiro, mas atrai pessoas interessadas em 'reviver' no futuro.

 

Treze membros de uma mesma família voltam à vida depois de passar 132 anos congelados em um iceberg. Esse é o mote de O Tempo Não Para, a nova novela das sete da TV Globo, que explora o tema da criogenia — nome dado a técnica de congelamento de pessoas que morreram na esperança de, um dia, trazê-las de volta à vida. “Há muitas razões para um ser humano querer ser congelado: desde a cura de doenças no futuro até a imortalidade. Um dos personagens, por exemplo, quer viver para sempre. Quem não gostaria de ver como o mundo estará daqui a 200 ou 300 anos?”, indaga o autor da novela, Mario Teixeira. Ele afirma, entretanto, que não gostaria de ter seu corpo congelado. “Detesto o frio. No inverno, sempre trato de viajar para algum lugar quente."

 

A ideia de preservar cadáveres em temperaturas baixíssimas para revivê-los no futuro parece coisa de novela ou tema de ficção-científica, não é mesmo? Nem tanto. Só nos Estados Unidos, 331 pessoas já foram congeladas em tanques de nitrogênio líquido a 196 graus negativos, temperatura em que o cadáver não apodrece, em dois dos maiores laboratórios de criogenia do planeta: o Cryonics Institute, que fica em Michigan, e o Alcor Life Extension Foundation, no Arizona. Há um terceiro, o KrioRus, sediado em Moscou, na Rússia.

 

Dependendo da modalidade, o Alcor cobra US$ 200 mil (algo em torno de R$ 746 mil) para preservação do corpo inteiro e US$ 80 mil (R$ 298 mil) só do cérebro. Já o Cryonics cobra uma taxa de US$ 28 mil (R$ 104 mil) de seus membros vitalícios.

 

A criogenia já é usada com bastante sucesso na preservação de embriões humanos e órgãos para transplantes. Mas, quando o assunto é a criopreservação de seres humanos, a história é outra. Para Andy Zawacki, diretor do Cryonics, que tem 171 pacientes “em suspensão criogênica”, a parte mais difícil é saber quando o indivíduo vai morrer. “O ideal é que, logo após sua morte, ele seja congelado o mais depressa possível. Dentro de minutos é o melhor”, avisa. Sem oxigenação, algumas células do corpo, como as neurológicas, por exemplo, não duram mais que cinco minutos. 

 

 

Empresas já utilizam técnicas de criogenia.

 

 

Já Linda Chamberlain, cofundadora da Alcor, que contabiliza 160 pacientes criopreservados, diz que congelar o indivíduo é fácil, difícil é saber como ressuscitá-lo. Não bastasse ter que descobrir a cura para doenças hoje incuráveis, como o câncer e a esclerose lateral amiotrófica (ELA), a ciência ainda precisa desenvolver uma técnica segura e eficaz de degelo. “Pesquisas recentes mostram que amostras pequenas do cérebro podem ser vitrificadas e reaquecidas sem danificar sua estrutura. O desafio agora é aplicar esse conceito em algo tão grande como o corpo humano”, diz.

 

Em tese, o processo de criopreservação é simples. Primeiro, o sangue é drenado do corpo e, em seguida, substituído por um líquido crioprotetor, o M-22, à base de glicerina. O objetivo desta substância química é evitar a formação de cristais de gelo que podem causar danos irreparáveis nas células do organismo. Depois, o cadáver é submetido, gradualmente, a baixas temperaturas até ser finalmente levado para um tanque de nitrogênio líquido, onde permanecerá de cabeça para baixo. O motivo para isso é que, em caso de vazamento, o cérebro fica protegido na base do freezer.

 

O diretor clínico do Centro de Criogenia Brasil (CCB), Carlos Alexandre Ayoub, classifica a criopreservação de cadáveres de “farsa”. Ele explica a razão. “Quer ser criopreservado? Então, seja em vida. Caso contrário, ninguém vai conseguir preservar sua memória. Se Einstein tivesse sido congelado e, anos depois, voltasse à vida, não saberia explicar o que é a Teoria da Relatividade”, exemplifica. Por essa razão, considera a hipótese da inteligência artificial mais viável. “Daqui a 5 ou 10 anos, vou salvar minha memória e implantá-la num robô. E vou viver eternamente”, prevê.

 

O primeiro caso de criogenia de que se tem notícia é o de James Bedford. Professor de Psicologia da Universidade da Califórnia, morreu, em 12 de janeiro de 1967, aos 73 anos, vítima de câncer nos rins. Desde então, seu corpo já peregrinou por cinco diferentes laboratórios até chegar, em 1982, ao Alcor, onde permanece até hoje. Outros casos famosos são: o astro do beisebol Ted Williams (1918-2002), o físico Robert Ettinger, o “pai” da criogenia (1918-2011), e o programador Hal Finney, o pioneiro em bitcoin (1956-2014). 

 

Arriscado ou não, já tem brasileiro na fila do Cryonics Institute. É o filósofo e antropólogo Diego Caleiro, de 32 anos. “Compreendo que só há sobreviventes entre os inscritos. É um barco salva-vidas com chances baixas de sucesso, mas é melhor que o fundo do oceano”, explica Caleiro, que nasceu em São Paulo e hoje mora em São Francisco, na Califórnia. Ele acredita que, daqui a 300 anos, se a espécie humana não tiver se autodestruído, a criogenia será uma tecnologia tão simples como um exame de raios-X. “Todo mundo vai ter 200 anos com corpinho de 25. E eu que não vou ficar de fora da aventura!”, brinca.

Compartilhe essa matéria:

As Mais Lidas da Semana