Agora quem manda é o Lula

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: ÉPOCA

Ao abrir mão de ministros mais próximos e dar quase tudo ao PMDB, Dilma se apaga – e a influência do antecessor brilha como no começo do governo.

 

Pouco antes de viajar para os Estados Unidos, há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff recebeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma conversa reservada no Palácio da Alvorada. O principal tema era a necessidade de Dilma mudar completamente o governo para enfrentar a crise econômica e política. Lula pegou pesado na defesa de seus pontos de vista.

 

Disse que havia apoiado Dilma para dar continuidade a seu projeto e ela estragara tudo. Dilma chegou perto de chorar. “Você escuta, mas não ouve”, disse Lula, em uma repetição da frase que tem dito há meses a ela e a aliados que o procuram para reclamar da presidente. Não foi a primeira conversa dura entre os dois. Em outras ocasiões, Dilma e Lula discordaram radicalmente, gritaram um com o outro e bateram as mãos na mesa. Antes, no entanto, Dilma escutava, mas não ouvia, ou seja, não mudava nada em sua conduta. Desta vez, no entanto, foi diferente. Sem popularidade, sem votos no Congresso e sem ordem na economia, Dilma teve de ceder.

 

Após a volta de Dilma de Nova York, Lula passou a desenhar com ela as trocas no ministério. Foram pelo menos mais duas conversas até chegar ao quadro final. Lula acertou com Dilma o aumento do espaço do PMDB, que agora tem sete ministérios; as fusões que cortaram oito ministérios, como Dilma queria; a oficialização da entrega da articulação política ao petista Ricardo Berzoini; o afastamento de Miguel Rossetto da Secretaria-Geral da Presidência, no Palácio do Planalto, para o Ministério da Previdência; e o passo decisivo e mais perseguido por Lula, a saída de Aloizio Mercadante da Casa Civil para a entrada de Jaques Wagner.

 

“Quero enfatizar que a fusão de alguns ministérios tem um objetivo que é fortalecer e dar maior eficiência às políticas públicas”, diz Dilma ao anunciar seu novo ministério. Dilma busca, com a barganha de ministérios com o PMDB, ganhar poder para governar. Há dúvidas sobre se isso ocorrerá. Os auxiliares mais ligados a Dilma – Mercadante e Rossetto – foram afastados e substituídos por gente da confiança de Lula. Lula poderá direcionar o governo de modo a construir sua candidatura à Presidência em 2018, coisa que já anunciou. Lula fará o que mais gosta, e sabe fazer, à custa de Dilma.

 

Na semana passada, Lula conversou com Dilma na véspera do anúncio da reforma ministerial. Esteve no Palácio da Alvorada e participou com ela do almoço com ministros petistas mais próximos e com o presidente do partido, Rui Falcão. Foi Lula quem conduziu o processo de negociação da reforma, inclusive a escolha dos nomes do PT para os outros ministérios. Há meses ele insistia, em especial, na troca de Mercadante. No início da semana passada, a bancada de senadores do PT pediu o afastamento de Mercadante – assim como os deputados haviam feito na semana anterior. Mercadante não tinha mais sustentação. Ponto para Lula, que sempre quis substituí-lo por Jaques Wagner, ex-ministro da Defesa, como forma de estabelecer um diálogo mais amigável com o Congresso. Dilma sempre resistiu. Identifica-se com Mercadante. Além do mais, abrir mão de alguém de sua confiança no principal cargo do ministério por alguém tão próximo a Lula era sinal de enfraquecimento. Agora, é uma prova.

 

Após a eleição do ano passado, Dilma julgava-se mais poderosa. Passou mais de dois meses sem conversar com Lula. Quando voltaram a se falar, por força das circunstâncias negativas, o papo não foi bom. Dilma e Lula conversaram a sós no Palácio da Alvorada, em 11 de março. De fora da sala, alguns puderam ouvir gritos e tapas na mesa. “Você atrapalha o meu governo com os seus vazamentos!”, disse Dilma. “Você é incompetente!”, disse Lula. Era o início da crise do governo com o PMDB. Na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros, Lula falara o que o PMDB queria ouvir: criticou o governo e sua postura de isolar o aliado – ideia de Dilma e de Mercadante. 

 

A ampliação do espaço do PMDB é um sinal claro da influência de Lula e da capitulação de Dilma diante da emergência de obter apoio na Câmara para evitar o pior, se é que ainda há tempo para isso. O protagonismo de Lula, menos explícito nos últimos anos e mais explícito na semana passada, desmoraliza Dilma. Nunca um presidente da República foi assim controlado por seu antecessor. Em Lula, ao contrário de Dilma, o Congresso enxerga poder.

 

Houve um tempo, longínquo, em que Dilma tinha poder. Havia até uma personagem com seu nome. Sua turma no Palácio do Planalto tratou logo de cooptar a Dilma Bolada, criada pelo publicitário Jeferson Monteiro. Mediante um cachê de R$ 20 mil mensais, Dilma Bolada virou arma de marketing político, junto com robôs e perfis falsos, para defender Dilma Rousseff e atacar seus adversários com piadas. Contudo, até esse naco de poder o mau humor da crise derrubou. Na semana passada, Monteiro anunciou que sua Dilma digital está bolada com a real: Dilma Bolada não apoia mais Dilma Rousseff. “Afinal, para ela, só importa o apoio do PMDB e de parte do empresariado para que ela se mantenha lá onde está. Trocou o Governo pelo cargo. Não é o Governo que eu e mais de 54 milhões de brasileiros elegemos”, disse a Bolada sobre a Rousseff. “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão.” É, não tem outro jeito. Dilma tinha mesmo de chamar o Lula.

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