Quilo de café mineiro premiado em concurso vale R$593 no exterior

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: G1

Pacote de 250g é vendido por U$40; na cotação desta terça, R$148,44. Mantiqueira investe em produção de café natural melhor avaliado no mundo.

 

É do alto da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas Gerais, a uma altitude de cerca de 1,5 mil metros, que vem o café natural mais caro do mundo. Pelo segundo ano consecutivo, o café produzido pelo produtor Sebastião Afonso da Silva, do município de Cristina, foi escolhido o melhor em 2015 pelos jurados do concurso "Cup of Excellence", alcançando uma pontuação de 94,47.

 

Em 2014, quando também levou o título, o produtor conseguiu a maior nota já obtida em concursos para um café natural em todo o mundo: 95,18, em uma escala que vai até 100.

 

Apenas uma saca de 60 quilos desse café premiado chegou a ser vendida a R$9,8 mil para a Starbucks, dos Estados Unidos, a maior rede de cafeterias do mundo.

 

A façanha foi tamanha que representantes da empresa fizeram questão de viajar até o Sul de Minas para entregar ao produtor uma embalagem de 250 gramas do café, que estava sendo vendido ao preço de 40 dólares nos Estados Unidos - na cotação desta terça-feira (15), R$148,44. "Eles marcaram o lugar e desceram de jatinho só para me entregar", recorda com orgulho o produtor.

 

 

Estrangeiros têm visitado região da Mantiqueira em busca de informações sobre os cafés especiais.

 

 

E não para por aí. Todo o lote premiado, composto de 17 sacas de 60 Kg, foi vendido a US$48,5 mil, o equivalente a R$145 mil. O quilo do café premiado rendeu R$142 ao produtor, enquanto o quilo de um café comum, tipo 6, bebida dura, rende R$ 8 conforme a última cotação. A valorização foi quase 18 vezes maior em relação ao mercado convencional.

 

A altitude, o clima e o solo favoráveis fazem com que a região da Mantiqueira consiga ter destaque na produção de cafés especiais. Atrelado a esses três fatores está o pós-colheita, que é o cuidado que o produtor precisa ter com o grão assim que ele sai do pé. 

 

A diferença que faz um café ser considerado especial em relação a um café normal, o café "commodity" está, além dos fatores naturais, no cuidado do produtor, principalmente no pós-colheita. Nesse tipo de produção, se preza a qualidade ao invés da quantidade. O cuidado com o grão impulsiona atributos que fazem o produto se tornar único.

 

 

Segredos de campeão

 

Gente simples do campo, Sebastião Afonso nunca imaginava que um dia teria o seu produto reconhecido mundialmente. Em 1995, começou a plantar arroz com os outros 14 irmãos. Mas, com o custo alto de produção e o baixo preço de venda no mercado, logo precisou procurar outra alternativa. Foi plantando um pé de café aqui, outro ali, e logo foi expandindo sua área. Hoje já possui 285 mil pés plantados em cinco propriedades, o que dá uma área de 85 hectares de café.

 

Há sete anos decidiu investir em apenas um nicho de mercado: a produção de cafés especiais. Desde então, não parou de ganhar prêmios. O primeiro veio em 2008 e recentemente, veio o reconhecimento mundial.

 

 

Sebastião e uma amostra do café produzido em Cristina: Não há dinheiro que pague a satisfação.

 

 

Por causa do reconhecimento obtido nos concursos, hoje o café produzido por Sebastião Afonso na região de Cristina já é vendido para compradores de países como Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Suíça e até o Japão. Para receber os "gringos" que visitam sua fazenda para conhecer melhor o produto, o produtor conta com a ajuda do filho Helisson, que ajuda o pai em todas as etapas de produção. Para negociar, eles contam com a ajuda de tradutores, já que ainda não aprenderam a falar outra língua.

 

 

Investimento em concursos e atração de estrangeiros

 

Assim como Sebastião Afonso, muitos outros produtores da região têm colhido frutos do investimento na produção de cafés especiais. O produtor Luiz Paulo Dias Pereira Filho, que também é diretor de uma exportadora de cafés em Carmo de Minas, município que fica a apenas 23 Km de Cristina, diz que os resultados estão vindo devido a um maior cuidado com o produto.

 

 

Aumento da demanda também no mercado interno

 

Embora não existam números oficiais sobre a representatividade das exportações dos cafés especiais hoje no Brasil, a estimativa é de que 10% do total exportado, cerca de 3,5 milhões de sacas, sejam de cafés finos.

 

Apesar da tendência ser um crescimento nesses números, a representante da BSCA diz que cada vez aumenta a demanda pelo consumo de cafés especiais no mercado interno, devido à expansão das redes de cafeterias e também da popularização das máquinas de café expresso.

 

 

Cup of Excellence

 

O Cup of Excellence é um concurso que começou a ser realizado no Brasil em 1999 e depois também passou a ser organizado em vários países.

 

A competição reúne jurados internacionais que avaliam lotes de cafés especiais produzidos nos países onde é organizado. No Brasil, concorrem amostras de cafés lavados e cerejas descascados e desde 2010, amostras cafés naturais. As competições acontecem somente com amostras de produtores de um mesmo país.

 

No entanto, as duas maiores notas obtidas até hoje nas duas categorias em todo o mundo foram registradas no Brasil.

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