Suspeitos teriam pedido R$ 50 mil para 'facilitar' investigação de homicídio. Delegado e investigador de Pouso Alegre foram levados para Belo Horizonte.

Um vídeo gravado por dois advogados mostram o momento em que dois policiais civis, um delegado e um investigador, de Pouso Alegre (MG) teriam pedido R$ 50 mil para 'facilitar uma investigação de homicídio. Eles foram detidos e encaminhados para a Casa de Custódia em Belo Horizonte.

Há a suspeita de que um delegado da cidade e outros agentes também estejam envolvidos no esquema.

Os advogados contam que na primeira vez que foram conversar com o delegado, acharam o procedimento estranho.

"Eles nos conduziram a uma sala vazia e, dentro desta sala, os dois investigadores, com gestos e posicionamentos, com as seguintes expressões: 'Não, nós temos que ver como os doutores podem nos ajudar'. Ou expressões do tipo: 'A gente pode aliviar para o seu cliente ou pode prejudicá-lo. Nós não conhecemos como os doutores trabalham. Então nós gostaríamos de saber como é que vocês trabalham, como que vocês podem nos ajudar'. E coisas e desta natureza", explicou Gleydston Lopes.

Lopes e o colega Marcos Freire acompanham o caso de um homicídio registrado na cidade no dia 15 de fevereiro. A partir deste momento, eles decidiram gravar toda a conversa com os policiais. Em um momento, o delegado pergunta do dinheiro.

Advogado: O senhor falou aí de...

Delegado: Cinquenta, né? Mas isso é negociável.

Depois das conversas, os advogados procuraram a ajuda do Ministério Público. "Imediatamente acionei a corregedoria da Polícia Civil em Belo Horizonte. Eles atenderam prontamente o nosso pedido, compareceram aqui na comarca de Pouso Alegre, e nos auxiliaram nas investigações", conta o promotor Márcio Henrique Mendes da Silva.

Flagrante

Os advogados foram orientados a armar um flagrante. Nas conversas gravadas, aparece o momento em que a data do pagamento é combinada.

Advogado: Terça-feira mais ou menos, doutor, você acha que está bom? Porque segunda tem audiência.

Delegado: Quarta seria melhor para mim.

"Nesta quarta-feira, dia 2, aonde foi feito o flagrante. Na delegacia de polícia, ao chegarmos com um dos nossos clientes para ser ouvido, o delegado já de pronto já solicitou de novo, falou: "E aquela questão do dinheiro? Vocês trouxeram?". Aí nós falamos: "Sim". Ele solicitou, e a gente falou sim", explica Freire.

Um investigador foi escolhido pelo delegado para buscar o dinheiro, que estaria no carro do advogado.

Delegado: Agora e aquela questão lá, que estava pendente aí? O Abel vai com os senhores, pode ser?

Advogado: Sim.

Delegado: Os senhores querem aqui mesmo?

Advogado: Vamos lá no carro.

Mas quando eles saíram, o investigador Abel Caetano Filho foi preso em flagrante pela Corregedoria da Polícia Civil. Em seguida, o delegado Erasmo Keneddy de Carvalho também foi preso.

Segundo a assessoria de comunicação da Corregedoria da Polícia Civil, o delegado e o investigador continuam presos na Casa de Custódia, em Belo Horizonte, onde devem permanecer por 30 dias. Nenhum representante dos dois suspeitos foi localizado para falar sobre as acusações até essa publicação.

Outros suspeitos

Outros dois investigadores suspeitos de participação no pedido de propina se apresentaram e foram ouvidos pela Corregedoria. O inquérito já foi enviado à justiça, mas por enquanto eles aguardam em liberdade."Também serão responsabilizados na forma da lei [se for comprovada a participação], tanto criminalmente, de maneira administrativa e, principalmente, sanções disciplinares provenientes da corregedoria", afirmou o promotor.

Posição da OAB

Para a OAB, a denúncia dos advogados foi importante. "E acho que a atitude deles é correta, é firme, e é nesse sentido que a OAB trabalha e prega a sua atuação", afirmou João Luiz de Campos, presidente da OAB de Itajubá

Assista o vídeo: