Contra 'radicalização islâmica', país força 13 mil homens a raspar barba

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: BBC

Governo do Tadjiquistão, em que 99% são muçulmanos, vê barba como comportamento 'estrangeiro imposto'.

 

"Eles me chamaram de salafista (integrante de movimento sunita fundamentalista), um radical, inimigo público. Ele não tiveram vergonha de usar linguagem abusiva. E aí dois deles seguraram meus braços enquanto outro raspou minha barba."

 

Djovid Akramov conta como foi parado pela polícia de Tajikna na porta de sua casa, com o filho de sete anos de idade ao lado, e levado para a delegacia da capital, Dushanbé.

 

Akramov se tornou mais um entre centenas de milhares de homens no Tadjiquistão detidos nos últimos dois anos por serem barbados.

 

Após serem levados à delegacia, eles foram fichados (com impressão digital e tudo) e obrigados a raspar os pelos da face.

 

Raspar barbas é parte de uma campanha do governo contra tendências ou comportamento que vê como "estrangeiro e inconsistente em relação à cultura tadjique".

 

O alvo é a radicalização em um país de grande maioria islâmica - em meio a temores de que a Ásia Central possa seguir o caminho de países como Afeganistão, Iraque ou Síria, imersos em extremismo.

 

Estima-se que, somente no último verão, entre 1.500 e 4 mil centro-asiáticos se voluntariaram para lutar por diferentes grupos radicais islâmicos na Síria e no Iraque.

 

Ao relatar o progresso da campanha "anti-radicalização", autoridades anunciaram que a polícia raspou as barbas de 13 mil homens na região de Kathlon no ano passado.

 

A campanha também mira mulheres vestindo roupas femininas tradicionais do Islã, especialmente o véu, em escolas e universidades. Mas, na prática, a proibição vale em todas as instituições estatais.

 

"Não venere valores estrangeiros, não siga culturas de fora. Use roupas de cores e cortes tradicionais, não o preto. Mesmo de luto, as mulheres tadjique devem vestir branco, não preto", disse o presidente do país, Emomali Rahmon.

 

As autoridades já haviam pedido a pais que dessem aos filhos nomes tradicionais tadjiques.

 

 

Humilhação

 

Djovid Akramov, entretanto, diz que não esquecerá a humilhação que sentiu ao ser forçado a raspar a barba em uma delegacia.

 

"O pior é a impunidade do policial, que estava aproveitando a oportunidade para intimidar as pessoas".

 

Ele afirma que não há como evitar a ação da polícia e que é exatamente esta conduta (do estado) que joga as pessoas para o radicalismo.

 

De acordo com números oficiais, 99% da população do Tadjiquistão é muçulmana, de maioria sunita, com uma pequena comunidade xiita na região de Badakhshan.

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