Tentativa bem sucedida: mosquitos mutantes contra o zika vírus

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: EL PAÍS

Liberação de milhões de machos transgênicos reduz a população do transmissor da doença em 82%.

 

Diante da falta de uma vacina contra o zika vírus, na cidade de Piracicaba (interior de São Paulo) a luta se concentrou no mosquito que o transmite. Nos arredores dessa cidade foram soltos milhões de mosquitos geneticamente modificados (GM) para que sua descendência morra antes de chegar à fase adulta e, portanto, não possa transmitir a doença. Os primeiros resultados mostram uma redução de larvas de mosquito de 82%.

 

O principal vetor ou transmissor do zika e outros vírus, como o da dengue e o chikungunya, é a fêmea do mosquito Aedes aegypti e, em menor medida, a do mosquito tigre (Aedes Albopictus). Salvo alguma vacina experimental, nenhum desses vírus tem cura. Outro enfoque possível é controlar a população de mosquitos, geralmente com inseticidas. Mas há uma terceira via: o controle biológico mediante o uso da genética.

 

É o que propôs a empresa britânica Oxitec às autoridades de Piracicaba no primeiro semestre do ano passado. Seu plano era soltar exemplares macho do Aedes aegypti GM em tal quantidade e durante tempo suficiente para que deslocassem os machos silvestres no acasalamento com as fêmeas. Esses machos do mosquito, denominados OX513A, portam e transmitem uma mutação genética que faz com que suas crias sejam dependentes da tetraciclina, um antibiótico. Se lhes falta, morrem antes de superar o estágio de pupa ou larval.

 

O objetivo inicial do ensaio, autorizado pelas autoridades de biossegurança do Governo brasileiro, era combater a dengue, transmitida também pelo Aedes aegypti. Mas, ao compartilhar o vetor, o zika vírus também pode ter sua incidência reduzida na região. Desde o início da estratégia, em abril, foram liberados cerca de 25 milhões de mosquitos. As autoridades locais prorrogaram o experimento por mais um ano e estudam estendê-lo a uma área maior, na qual vive um décimo da população de Piracicaba. Para isso construirão na região uma instalação para criar os insetos.

 

O anúncio dos resultados desse primeiro ano e da prorrogação do ensaio impõe pressão sobre os encarregados da saúde pública no país, responsáveis por autorizar a distribuição comercial e maciça desses mosquitos transgênicos.

 

Até agora a Oxytec, comprada recentemente por uma empresa norte-americana, realizou outros experimentos em países como Panamá, Malásia e as ilhas britânicas Caiman. Desde o final de 2014 também planeja sua liberação no arquipélago Flórida Keys, no sul do Estado norte-americano da Flórida.

 

Os ambientalistas demonstraram muito receio desses mosquitos GM. No ano passado, a organização britânica GeneWatch publicou um relatório sobre os mosquitos da Oxitec. O trabalho menciona os riscos para o meio ambiente com a liberação desse tipo de insetos. Questiona a falta de dados sobre a redução das doenças transmitidas por mosquitos onde os GM foram soltos e critica a falta da apresentação de dados da eficácia dos testes.

 

No entanto, em julho, cientistas da Oxitec e colegas brasileiros publicaram em uma revista científica os resultados de um dos ensaios, desenvolvido em Juazeiro, no Estado da Bahia, entre 2010 e 2011. Ao término de um ano, nas áreas onde mosquitos GM tinham sido soltos a população adulta de Aedes aegypti se reduzira em 95% e a quantidade de ovos, em 82%, a mesma porcentagem de êxito de Piracicaba.

 

 

Funcionária da Secretaria de Saúde de SP mostra uma larva do mosquito ' Aedes aegypti'.

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