Ortorexia: estamos ficando doentes de tanto comer bem?

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

A obsessão por comer apenas alimentos saudáveis tem um nome: ortorexia. Saiba como esse transtorno se instala e por que a comida é muito mais que um punhado de nutrientes.

 

Dos 14 aos 16 anos, Anna Júlia Moll comeu frango, batata-doce e brócolis em todas as refeições. Mais precisamente, 100g de frango e 40g de batata-doce e brócolis, pesados numa balança. A carne era temperada apenas com limão, alho e cebola e grelhada numa panela antiaderente sem sal ou óleo. Tudo era preparado pela estudante, moradora de Cachoeirinha, região metropolitana de Porto Alegre. “Eu não deixava minha mãe fazer porque tinha medo que ela colocasse azeite ou algo que pudesse ‘estragar’ a comida”, conta Anna, hoje com 20 anos. Ela lia as novidades da ciência e sabia que o sal causava “retenção hídrica” e a deixava inchada, e o azeite era culpado pela gordura. “Tudo o que era gordura era ruim. Ponto”, explicou.

 

Um dia ela decidiu que não voltaria a comer doces e laticínios. O açúcar era um veneno conhecido, e os derivados do leite tinham um efeito semelhante ao do sal: causavam inchaços indesejados para sua meta de estar em dia com a saúde e a silhueta. Mas, para se convencer mesmo a não ingerir mais nada de iogurte ou brigadeiro, colocou na cabeça que sofria de diabetes e intolerância à lactose, apesar de não ter nenhum sintoma das duas doenças. Se tivesse muita vontade de comer algo da lista proibida, cheirava o prato até a vontade passar. Funcionava.

 

A mania de comer só o que faz bem à saúde e demonizar certos ingredientes é conhecida por parte da comunidade médica como ortorexia nervosa. A desordem ainda não faz parte do DSM, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a Bíblia da Psiquiatria, o que significa que ainda não há protocolos para diagnosticar e tratar a ortorexia. Mas especialistas acreditam estar diante de uma nova faceta de um transtorno alimentar que começou com a cultura da geração saúde.

 

O termo foi cunhado pelo médico norte-americano Steven Bratman em 1996 e vem das palavras gregas orthos, que significa certo, e orexis, apetite. Na época, Bratman não tinha intenção de nomear um novo distúrbio, mas preocupava-se com o comportamento peculiar de um grupo de pacientes que chegavam ao seu consultório de medicina alternativa perguntando o que podiam cortar da dieta.

 

“Era mais como um movimento de contracultura”, escreveu, por e-mail. Mais de 20 anos depois, o fenômeno ganhou proporções epidêmicas. “Hoje, a ortorexia é totalmente mainstream”, disse Bratman. Estima-se que em torno de 1% da população mundial sofra dessa fixação em se alimentar de forma correta, de acordo com um estudo da University of Northern Colorado, dos Estados Unidos, publicado neste ano. Em números absolutos, é um contingente de 70 milhões de pessoas. Entre certos grupos, como atletas, modelos e estudantes da área de saúde, o risco é bem mais alto.

 

Uma pesquisa feita na Universidade de Taubaté, interior de São Paulo, com 150 alunas do curso de Nutrição revelou um índice alarmante: 88,7% delas tinham risco de desenvolver comportamento ortoréxico. No experimento, as pesquisadoras Quetsia de Souza e Alexandra Rodrigues mediram o Índice de Massa Corporal (IMC) das participantes e aplicaram testes que avaliavam o nível de distorção da imagem corporal e o risco para desenvolver o distúrbio.

 

Entre blogueiros fitness e seus seguidores, os números também são altos, segundo a nutróloga Maria del Rosário, coordenadora do Departamento de Transtornos do Comportamento Alimentar da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran): “Esse tipo de publicação chama pessoas com propensão a desenvolver transtornos alimentares.”

 

Preocupada com a explosão do fenômeno, a Abran criou oficinas para treinar médicos de diferentes especialidades para identificar, o mais cedo possível, casos em que a preocupação com alimentação saudável tenha se transformado num comportamento obsessivo. Como outras desordens psiquiátricas, os distúrbios alimentares se manifestam de forma misturada. A anorexia, por exemplo, pode ter padrões ortoréxicos: a pessoa restringe a alimentação a alimentos saudáveis e com baixas calorias para perder peso. Em geral, a distorção da imagem corporal acompanha o quadro. Bratman alerta que esses seriam os casos mais graves.

 

É o que parece ter acometido a estudante de Nutrição Anna Júlia Moll. Ela nunca foi diagnosticada por um profissional, mas, durante uma aula sobre transtornos alimentares, viu-se descrita. “Quando aprendi sobre a ortorexia na faculdade, me reconheci em tudo”, lembra. No período de um ano e meio em que se limitou a uma dieta à base de frango, legumes, sem laticínios ou doces, Anna perdeu 36 kg e chegou aos 50 kg distribuídos pelos seus 1,66 metro. A obsessão com comida influiu até na escolha do curso universitário, a Nutrição. “Na ortorexia, o pensamento sobre alimentos saudáveis se torna o tema central em todos os momentos do dia, descreve Bratman.

 

 

1% da população mundial sofre de ortorexia.

 

 

Distúrbio aceito

 

Identificar a ortorexia não é fácil. Em um mundo atolado de pizza e lasanha congelada, dar preferência a alimentos frescos e sem aditivos é algo bem-visto e até invejado por quem não consegue dar tanta atenção ao que põe na boca. Isso explica o sucesso dos perfis fitness no Instagram. Nutricionistas viraram celebridades nas redes sociais com dicas de como pesar as refeições ou comer batata doce antes de ir para a academia.

 

A própria ciência — e a divulgação feita pelo jornalismo — também tem sua parcela de culpa. Cada dia sai um novo estudo sobre comida, ora demonizando, ora celebrando determinado alimento. O caso do ovo é exemplar. A Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) recomenda que uma pessoa não coma mais que 300 mg de colesterol por dia. Um ovo contém 185 mg de colesterol, logo não é indicado ultrapassar dois ovos por dia, certo? Não exatamente. Segundo a diretriz da AHA, o colesterol que você ingere vai direto para a corrente sanguínea, mas não é bem assim que funciona.

 

O corpo tem uma espécie de termostato, regulado pela genética, pelos hábitos e pelo estresse, que determina o quanto ele produzirá de colesterol por dia. É curioso, mas a dieta quase não tem participação nisso. Não à toa, um estudo de 2013 mostrou que até três ovos por dia, o equivalente a mais de 550 mg de colesterol, ajudam a perder peso, reduzir inflamações e — pasme — a manter os níveis de colesterol sob controle. Outra pesquisa, essa de 2006, não evidenciou qualquer associação entre consumo de ovos e risco de doenças coronarianas. Isso porque, na verdade, o colesterol é um dos nutrientes mais importantes do corpo: está presente em cada célula e participa da produção hormonal.

 

Isso não quer dizer que você deva comer uma dúzia de ovos por dia, apenas que você deve consumi-los sem medo. O mesmo ocorre com o leite, o café e a bola da vez, o glúten. Se você não tem nenhuma alergia, intolerância ou problema intestinal, não há por quer eliminar qualquer ingrediente da dieta. “O corpo precisa de uma variedade de alimentos e não consegue fazer substituições fáceis”, diz a nutróloga Maria Del Rosário, da Abran.

 

Em geral, a ortorexia obedece a um ciclo. No início, vem a preocupação em comer de forma saudável e correta. Depois, o indivíduo começa a restringir alguns alimentos ou grupos alimentares inteiros. Em seguida, a obsessão se instala: a pessoa só pensa em comida o dia inteiro e passa a negar convites ou evitar lugares onde possa cair em tentação. A estudante Anna Júlia Moll passou a rejeitar convites para aniversários, encontros com amigos ou jantares em família. “Sinto que perdi a minha adolescência”, desabafa.

 

No auge do transtorno, porém, Anna sentia-se motivada. “Eu comia de forma saudável e estava perdendo peso. Isso que importava”, contou. Ela ia religiosamente na academia e dormia “as oito horas por noite necessárias para o músculo descansar”. Seguia dezenas de modelos e blogueiras fitness no Instagram e, quando as restrições alimentares a deixavam triste, olhava a timeline e enchia-se de autoconfiança para continuar na linha.

 

Os especialistas não têm dúvidas sobre a influência das redes sociais no avanço dos transtornos alimentares. Pelo menos dois estudos mediram o impacto dos perfis fitness na autoimagem e no risco de ortorexia. Um deles, feito por pesquisadores do University College de Londres, revelou uma associação entre o uso intenso do Instagram e o transtorno. A prevalência entre os usuários da rede social foi de 49% contra 1% da população em geral. Em outro estudo, realizado pela universidade australiana Macquarie, 150 estudantes disseram que se comparar com outras mulheres nas redes sociais as deixava infelizes e, ao mesmo tempo, motivadas a fazer dietas loucas.

 

O fato de estar em sintonia com a cultura tem um efeito negativo no tratamento da ortorexia. “Familiares e amigos demoram a se dar conta. Por isso, o comportamento [de fazer restrições alimentares severas] é tolerado”, diz a psiquiatra Miriam Garcia Brunstein, coordenadora do Programa de Transtornos Alimentares em Adultos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. É aí que mora o problema. Poucos contestam alguém que usa como argumento a saúde para justificar as escolhas alimentares. Em determinados grupos, quem come junk food ou alimentos tidos como “não saudáveis” é hostilizado.

 

Foi o que ocorreu com a blogueira norte-americana Jordan Younger. Jordan alçou fama na internet quando adotou o veganismo como estilo de vida. Em nove meses, ela amealhou 300 mil fãs no seu blog The Blonde Vegan, onde pregava os benefícios da yoga, do mindfulness e da dieta raw e vegana, em que excluía não só alimentos de origem animal como os cozidos. “Comecei a viver em uma bolha de restrição. Totalmente à base de plantas, sem glúten, sem óleo, sem açúcar refinado, sem farinha”, declarou. Em junho de 2014, Jordan percebeu que a dieta ultrarrestritiva estava a deixando doente. Foi então que escreveu o texto Por que estou me afastando do veganismo — que acabou se transformando no livro Breaking Vegan (Quebrando o Veganismo, em tradução livre).

 

Foi o suficiente para sofrer represálias. Um dos leitores raivosos escreveu: “Bem, se todos nós podemos ‘fazer o que queremos’, eu estarei aí para assar a sua família mais tarde”. Jordan se manteve firme na mudança e trocou o nome do blog para The Balanced Blonde (A Loira Equilibrada). “Estou avaliando minha dieta e dizendo adeus aos rótulos”, escreveu. “Isso é terrível para mim e estou totalmente fora da zona de conforto depois de viver tanto tempo sob o guarda-chuva do veganismo. Mas faço isso para ao bem da minha saúde física e mental”, contou, falando sobre como se livrou da ortorexia.

 

 

A carne vermelha costuma ser vista apenas como vilã, mas bani-la do cardápio sem acompanhamento médico pode trazer prejuízos nutricionais e emocionais.

 

 

Muito além dos nutrientes

 

Demonizar certos alimentos faz parte do comportamento dos viciados em comida saudável. Carne vermelha, comidas processadas, embutidos, farinhas brancas e açúcar costumam encabeçar a lista proibida. É claro que, em excesso, eles podem fazer (muito) mal — o açúcar, por exemplo, é tão viciante quanto a heroína. Os embutidos, quando consumidos diariamente, podem aumentar em 18% o risco de câncer de cólon. Mas bani-los do cardápio também traz prejuízos nutricionais e emocionais. Isso porque comer não é apenas mastigar um punhado de nutrientes. A comida, bem como a forma como a consumimos — muitas vezes, ao lado de pessoas que amamos —, mexe com o humor, impacta a inteligência e interfere nas relações sociais.

 

Veja o caso da carne vermelha. Um estudo da Universidade Harvard publicado em 2015 revela que podemos atribuir às doses maciças de proteína animal o fato de sermos seres pensantes hoje. Sua entrada na dieta há 2,6 milhões de anos foi decisiva para o crescimento do cérebro humano. Isso porque frutas e vegetais, apesar de ricos em vitaminas, são pobres em calorias e insuficientes para as altas demandas de energia do cérebro. A outra alternativa seria extrair calorias das raízes. O problema era mastigar um aipim cru — tarefa difícil até para os Australopithecos, parentes dos chimpanzés (o hábito de cozinhar os alimentos só chegou bem mais tarde, 500 mil anos atrás).

 

Para saber quanto tempo nossos antepassados pouparam ao incluir a carne na dieta, os biólogos Katherine Zink e Daniel Lieberman recrutaram 24 pessoas e deram a elas três tipos de vegetais, como cenouras, inhames e beterrabas, e um tipo de carne vermelha. Tudo cru, é claro. Eles calcularam então a quantidade de energia gasta para mastigar e engolir as amostras inteiras, e descobriram que ingerir a carne exigia entre 39% e 46% menos força do que mascar as raízes.

 

Logo, uma dieta com um terço de proteína animal “poupou” 2 milhões de mastigações por ano, uma redução da ordem de 13% no esforço e na queima de calorias apenas no jantar. Na prática, essa economia não significava mais horas livres no dia, mas muito mais calorias ingeridas em menos tempo. Resultado: passou a sobrar energia para o desenvolvimento desse órgão altamente complexo que carregamos sobre o pescoço. Zink e Lieberman também acreditam que o fato de não precisarmos mais de dentes afiados para rasgar carcaças de animais silvestres resultou em mandíbulas menores e órgãos de fala mais avançados. Ponto para a carne.

 

Embora não precisemos mais de um churrasco por dia para alimentar nossos cérebros em desenvolvimento, a carne vermelha, junto com peixes gordos, como o salmão, continua encabeçando a lista dos alimentos que fazem bem para a cuca. “Pessoas que eliminam a carne vermelha podem desenvolver demência por causa da falta da vitamina B12”, alerta a nutróloga Maria del Rosário. “Geralmente, medicamentos e problemas intestinais podem prejudicar a absorção de B12, mas estamos detectando isso em ortoréxicos”, alerta. “Nossa fisiologia determina que nossa dieta seja variada, e não restritiva”, diz a psiquiatra Miriam Brunstein.

 

As razões são evolutivas. Segundo a neurocientista britânica Nicole Avena, o cérebro humano evoluiu ao longo dos séculos para prestar atenção a sabores novos e diferentes. Primeiro, para identificar alimentos estragados — comer algo ruim podia pôr a vida em risco. Segundo porque, quanto mais variada é a nossa dieta, maiores são as chances de obter todos os nutrientes de que precisamos. Por causa disso, nosso cérebro se move por novidades gastronômicas — é por isso que perfis de alimentação no Instagram e programas de culinária na TV fazem tanto sucesso. Só o que é diferente e saboroso consegue fazê-lo liberar a dopamina, o neurotransmissor do prazer. Se você comer a mesma coisa todo santo dia, o organismo se acostuma e deixa de se sentir satisfeito e feliz após a refeição.

 

Depois de passar um ano e meio à base de frango, batata-doce ou arroz integral e brócolis, Anna Júlia sentiu os cabelos e unhas enfraquecerem e parou de menstruar durante quase seis meses. “Hoje não posso nem sentir o cheiro de batata-doce e arroz integral”, diz. A restrição compulsória dos laticínios também a fez desenvolver uma intolerância à lactose que não tinha.

 

Nem o vilão açúcar pode ser banido por completo. Os doces, por exemplo, têm papel relevante não só para o paladar — quem não fica feliz diante de um bolo no meio da tarde? —, mas para estreitar laços sociais: você divide uma torta no aniversário dos amigos ou uma sobremesa no almoço de família. Se corta o açúcar, fica difícil encontrar ocasiões sociais tão afetivas ao compartilhar um brócolis. Antropólogos não têm dúvidas de que a comida foi um dos fatores que nos transformaram em animais sociais.

 

Imagine nossos antepassados há alguns milhões de anos, antes do invento da agricultura. Para não morrer de fome, eles precisavam colher raízes e caçar animais silvestres, duas tarefas difíceis de serem feitas por um homem só. De acordo com os estudos da equipe da antropóloga Susanne Shultz, da Universidade de Oxford, a necessidade de buscar comida foi um dos primeiros estímulos à formação de bandos maiores. Compartilhar a presa também fazia todo o sentido. Ninguém conseguia comer um animal inteiro sozinho e não havia geladeira para guardar os restos para mais tarde. Depois de matar um bicho, era preciso cortá-lo em pedacinhos, fazer fogo e assar a carne antes do ataque de moscas e bactérias. Fazia-se, então, uma fogueira, e essas reuniões em volta das brasas forjaram a linguagem, as crenças e, em última análise, as civilizações. Esse comportamento segue no nosso DNA. Ainda hoje, a comida é o maior (e mais saboroso) pretexto para confraternizar.

 

Anna Júlia percebeu que era hora de parar com as restrições à mesa quando conheceu o namorado. “Fiquei pensando que ele ia me achar uma chata ao me convidar para ir ao cinema e eu recusar a pipoca”, lembrou. “O dia mais difícil foi quando aceitei um convite para ir a um churrasco na casa de amigos dele. Eu sabia que teria de comer batata e carne. Mas a ideia de ser taxada de fútil era pior.” No início, Anna sofreu para se livrar do controle total sobre o que ingeria. “Fui e comi churrasco com a consciência pesada. Sonhei a noite inteira com a salada de batata”, lembra. Mas o medo de desagradar o namorado funcionou como mola propulsora. No dia da entrevista, uma sexta-feira à tarde, ela estava feliz porque antes do almoço tinha comido um bolo que sua avó havia preparado. “Comida é não é só caloria. É afeto, é emoção”, disse, aliviada com a nova fase.

 

 

1% da população mundial sofre de ortorexia

 

University of Northern Colorado Fontes: Transtornos Alimentares; Sudden Death in Eating Disorders; Mortality Rates in Patients with Anorexia Nervosa and Other Eating Disorders — A Meta-analysis of 36 Studies

 

 

Outros transtornos associados à comida

 

Aprenda a reconhecer alguns dos mais comuns:

 

Anorexia nervosa

É marcada por uma restrição alimentar progressiva, com a eliminação dos alimentos considerados “engordantes”. Em geral, os pacientes têm uma distorção da imagem corporal. Leva à morte até 20% das vítimas.

 

Bulimia nervosa

Episódios de compulsão alimentar acompanhados de sentimento de culpa. Para manter o peso, o indivíduo recorre ao vômito autoinduzido e/ou uso de laxantes. Afeta entre 0,9% e 4,1% de adolescentes e adultos jovens.

 

Síndromes atípicas ou parciais de anorexia e de bulimia

Assemelham-se à anorexia e à bulimia, mas não preenchem totalmente seus critérios ou seus sintomas não são suficientemente graves para definir o diagnóstico. Metade dos casos evolui para quadros completos.

 

Pica

É um transtorno de alimentação típico da primeira infância. Consiste na ingestão persistente de substâncias como terra, cabelo e até fezes de animais, que não fazem parte de uma dieta culturalmente aceita.

 

Transtorno de ruminação

Episódios de regurgitação repetidos que podem levar a complicações médicas como desnutrição, perda de peso, desidratação e, nos casos mais graves, até à morte.

 

Transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP)

Os pacientes, na maioria obesos, apresentam episódios de compulsão alimentar, mas não utilizam medidas extremas para evitar o ganho de peso, como os pacientes de bulimia nervosa.

 

 

Nós e a comida

 

O impacto da comida, do modo de prepará-la e da nossa relação à mesa ao longo da evolução:

 

1. Churrasco

Há 1,8 milhão de anos - A ingestão de carne assada foi fundamental para que virássemos humanos porque fez o corpo economizar energia. Com isso, o sistema digestivo encolheu e o cérebro ficou maior, alterações que marcam a transição entre Homo habilis e Homo erectus.

 

2. Sopa de raízes

Há 500 mil anos - Depois da carne, os hominídios começaram a cozinhar todos os outros alimentos. Assim, as raízes duras e fibrosas ficaram bem mais digeríveis quando colocadas em água. Isso causou um segundo grande aumento do cérebro que deu origem aos ancestrais diretos do Homo sapiens.

 

3. Pão

Há 22,5 mil anos - O pão foi inventado antes da agricultura. Não conseguimos comer grãos silvestres, mas, quando moídos e transformados em pães, esses cereais liberam carboidratos altamente energéticos.

 

4. Salsicha

Há 20 mil anos - Os embutidos nasceram na pré-história. Mais tarde, os povos germânicos medievais desenvolveram as salsichas, das quais a carne de porco é a principal matéria-prima.

 

5. Batata

Há 9 mil anos - Principal tubérculo das civilizações andinas, a batata se tornou popular na Europa durante os anos de guerra e fome. Atualmente, é o quarto alimento mais cultivado no mundo, ficando atrás do trigo, do milho e do arroz.

 

6. Cerveja

Há 7 mil anos - A cerveja nasceu como subproduto da fermentação do pão de trigo. Nas cidades medievais, foi uma alternativa para a água, muitas vezes contaminada. É a bebida alcoólica mais consumida no mundo.

 

7. Sal

2000 a.C. - Produzido pelos chineses, servia para conservar e temperar alimentos numa época pré-geladeira. O sódio (40% do sal) participa da condução dos impulsos nervosos, mas também está associado à hipertensão.

 

8. Frituras

600 a.C. - Os primeiros registros estão no Antigo Testamento. O livro de Levítico descreve a diferença entre cozinhar o pão ou fritá-lo na panela. Antes usada por egípcios e chineses, a técnica ganhou espaço na Europa medieval.

 

9. Açúcar

500 a.C. - Nativa da Nova Guiné, a cana-de-açúcar era refinada desde os tempos de Alexandre, o Grande. Recentemente, a indústria trocou a especiaria pelo xarope de milho, um dos culpados pelo surto de obesidade no mundo.

 

10. Sabores sintéticos

1851 - Balas com sabor de fruta entraram na história durante uma exposição em Londres no auge da Era Vitoriana. Sem os sabores sintéticos, boa parte da comida dos supermercados seria intragável.

 

11. Suplementos vitamínicos

1937 - Em 1913, cientistas descobriram como produzir a vitamina A. Hoje, encontram-se vários nutrientes em forma de pílula, mas pesquisas indicam que os multivitamínicos não melhoram a saúde.

 

Fontes: The Cambridge World History of Food; Pão: Uma História Global; Pegando Fogo: Por que Cozinhar nos Tornou Humanos; Comidas que Mudaram a História.

 

 

Os sinais da ortorexia

 

O médico Steven Bratman, inventor do termo ortorexia, criou um teste para saber se a preocupação em comer virou obsessão.

 

Se você é entusiasta da alimentação saudável e concordar com qualquer uma das afirmações abaixo, pode estar desenvolvendo um transtorno alimentar:

 

1. Perco muito tempo pensando, escolhendo ou preparando comida saudável e isso interfere em outras dimensões da minha vida, como o amor, a criatividade, a família, a amizade, o trabalho ou a escola.

 

2. Quando como um alimento que considero não ser saudável, me sinto ansioso, culpado, sujo ou contaminado — só estar perto desse tipo de comida me perturba e sou crítico em relação às pessoas que o consomem.

 

3. Meu senso pessoal de paz, felicidade, alegria, segurança e autoestima dependente excessivamente da minha alimentação ser íntegra e correta.

 

4. Às vezes, gostaria de relaxar na minha autoimposição de sempre “comer bem” em ocasiões especiais, como um casamento ou jantar, mas não consigo.

 

5. Ao longo do tempo, tenho constantemente eliminado mais alimentos e expandido a minha lista de normas alimentares numa tentativa de manter ou melhorar os benefícios para a saúde.

 

6. Seguir minha teoria de alimentação saudável me fez perder mais peso do que a maioria das pessoas diria que é bom para mim, ou causou outros sinais de desnutrição, como perda de cabelo e falhas no ciclo menstrual.

 

*Se você tem uma condição médica em que não é seguro abrir exceções na dieta, ignore a questão.

 

Fonte: The Authorized Bratman Orthorexia Self-Test.

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