Pesquisadores descobrem primeira espécie de rã que brilha no escuro

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

O estudo de coautoria brasileira identificou a característica que não ocorre em nenhuma das 7600 espécies de anfíbio.

 

Os herpetólogos argentinos Julian Faivovich e Carlos Taboada, da Universidade de Buenos Aires, queriam estudar um tipo de anfíbio muito específico, com a pele transparente e os ossos azuis, quando fizeram uma descoberta que surpreendeu toda a comunidade científica.

 

Ao procurar pelas rãs da espécie Hypsiboas punctatus, que ocorrem em toda a América do Sul, Taboada usou luzes ultravioleta para fazer uma melhor leitura no campo e percebeu que, além das características peculiares, o animal também brilhava no escuro — uma característica que não ocorre em nenhuma das 7600 espécies de anfíbio. 

 

“É surpreendente por que, dentro das teorias evolutivas, esta característica teria ficado mais com animais que vivem em água, insetos e, possivelmente, em algumas aves, como mostrou um estudo não finalizado”, explica à GALILEU o químico Norberto Peporine Lopes, da USP, que assinou ao lado dos argentinos o artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

 

Ao contrário do futebol, a parceria entre Argentina e Brasil na ciência não é novidade. A tarefa de Peporine foi descobrir o composto responsável pelo brilho. Isso porque, ao contrário dos vaga-lumes que são bioluminescentes, as rãs precisam primeiro absorver luz para depois emiti-la.

 

A questão é: por que estas rãs brilham no escuro? “A primeira hipótese que pensamos logo de cara é que poderia ser uma forma de comunicação”, explica Peporine. Seria uma terceira forma de manter contato com outros seres da espécie, além do canto e da química, através do cheiro.

 

“O que nós descobrimos é que quando essa substância devolve a luz, ela é emitida em um comprimento de onda que é exatamente no comprimento máximo de absorção do fotorreceptor do olho da rã”, diz Peporine. Ou seja, qualquer rã da mesma espécie vai enxergar o par mesmo estando longe, um dom que só conseguiríamos com a ajuda de luz ultravioleta.

 

Assim, os pesquisadores mostram que a terceira forma de comunicação da espécie é visual. Peporine usa o caso da reprodução como exemplo: “Quando a rã está num lugar escuro, se orienta pelo som e o cheiro, mas isso não dá a posição correta. Com a fluorescência, ela consegue enxergar exatamente onde está o par, melhorando a interação".

 

Provavelmente, trata-se de um pulo evolutivo, uma vantagem, já que com isso as rãs conseguem se reproduzir de forma mais efetiva e evitam os predadores, que não possuem a habilidade de enxergá-las.

 

Peporine comemora as possibilidades de pesquisa que se abrem com a descoberta. “Você pode ter vários usos para essa nova classe, ela precisa ser estudada”, diz. “Cinco minutos antes de você me ligar, eu estava falando com um colega da bioquímica que me perguntou se poderia usar essa substância para ligar em algumas proteína, para monitorar um processo biológico através do fenômeno da emissão da luz. Eu falei: ‘Calma, rapaz, deixa a ficha cair primeiro, precisamos entender.”

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