Jovens revisitam em foto e livro memórias da cidade de Pouso Alegre

Publicado por Tv Minas em 16/01/2019 às 21h54

Fonte: G1

Segundo maior município do Sul de Minas completa 168 anos. Confira imagens do passado e do presente de pontos conhecidos.

 

Matéria extraída do G1

 

Pelas lembranças de Maike Riceli, de 31 anos, a vida em Pouso Alegre se mistura entre realidade e ficção. Pelas lentes de Luís Henrique Fernandes Cezáreo, de 25, há cor, luz e concreto por todas as partes. Nesta quarta-feira (19), dia em que a segunda maior cidade do Sul de Minas completa 168 anos, os dois jovens moradores revisitam suas memórias por meio de um livro e uma série fotográfica.

 

"O sol brilhava alto no céu enquanto Desidério se esforçava para que seus pés não pisassem em falso sobre a calçada irregular. De vez em quando, ele punha a mão direita sobre o bolso dianteiro da calça para se certificar de que o dinheiro continuava ali", narra Maike no conto "Descanso Feliz", do livro homônimo que faz um trocadilho com o nome da cidade.

 

Enquanto o fictício morador Desidério senta-se na praça, olha ao seu redor, interage com o seu passado, de infância difícil, e o seu presente, de hábitos humildes, o agente cultural do museu municipal apresenta pontos que dão os contornos da Pouso Alegre de 2016, moldados pela sua história e sua gente.

 

Avenida Doutor Lisboa em 1930 e em 2016.

 

"No livro, eu reuni memórias que estão presentes aqui no museu, nas minhas e no que eu entendia sobre Pouso Alegre. Não tem um compromisso de ser muito fiel à realidade. É mais minha imaginação, mas valorizando as pessoas comuns", explica.

 

 

História de chegadas

 

Situada às margens da Rodovia Fernão Dias, Pouso Alegre já nasceu voltada para o comércio. A busca por minas de ouro permitiu a chegada de bandeirantes à região no entorno do Rio Mandu, que até meados do século 20 tomava conta de quase toda a área onde hoje se situa o bairro São Geraldo.

 

​Vista da região ocupada pelo Rio Mandu em 1935, no ponto que deu lugar à rotatória de acesso ao bairro São Geraldo em 2016.

 

Apesar da constatação inicial da ausência de minas nas terras próximas à divisa com São Paulo e um princípio de investimento em agricultura, logo o arraial ganhou uma capela e começou a influenciar politicamente em seu território.

 

Centro religioso do catolicismo em Pouso Alegre: a Igreja Matriz na década de 1910; demolida e reconstruída a partir dos anos 1940 e 1950; Catedral Metropolitana em 2016 .

 

O Mercado Municipal, as praças Senador José Bento e João Pinheiro, a Avenida Doutor Lisboa, com seus clubes e teatro, foram sendo construídos a partir de meados do século 19 e se tornando marcas de uma cidade que já reúne quase 150 mil moradores, uma concentração populacional considerada grande para os padrões sulmineiros, onde muitos municípios não chegam a 20 mil moradores.

 

Mudanças no Mercadão Municipal de Pouso Alegre em quatro períodos diferentes: prédios de 1900, 1935, 

 

Theatro Municipal de Pouso Alegre em 1918 e fechado para reforma atualmente, em 2016​.

 

Praça João Pinheiro: no começo do século 20, era o Parque Municipal de Pouso Alegre; nos anos 1940, era conhecido como parque infantil; em 2016, uma das praças do Centro da cidade​.

 

 

Curiosidade sobre o passado

 

Mas para Maike, a conhecida terra do Mandu, que atrai tanta gente em busca de trabalho no setor de serviços e na indústria, ainda é uma cidade que tenta lidar com vestígios de um passado que teima em se esconder sob pavimentos e prédios.

 

"Existe uma história clássica de que Pouso Alegre ganhou esse nome porque se referia ao elogio de um conde que passou a noite aqui, mas existem alguns historiadores que apontam que a prostituição, por muito tempo institucionalizada, com endereço certo inclusive, é que originou [o topônimo]", relata. "E eu acho curiosa a forma como a cidade lida com essa história. Meu livro traz coisas relacionadas a isso."

 

 

Olhos sobre o novo

 

Luís Henrique, por sua vez, se concentra no presente de um lugar que considera próspero. "Eu vejo que Pouso Alegre, apesar da crise econômica, dá oportunidade para quem busca por ela. Mas, quando ia buscar fotos locais, via muita coisa antiga. Eu queria mostrar o que é essa cidade hoje, o que acontece dentro dela", conta.

 

Imagem da Exposição 'Minhas Memórias, Minha Pouso Alegre', do fotógrafo Luís Henrique.

 

No entanto, as imagens trazem resquícios do mesmo passado que tanto instiga os contos de Maike. Luís Henrique olha para a Catedral Metropolitana, que pouco lembra a pequena capela erguida há mais de um século, e sua câmera capta luzes e carros. O tom da série que produziu, "Minhas Memórias, Minha Pouso Alegre", é urbano e tão frenético quanto o avanço econômico que caracteriza sua terra natal.

 

"A vista noturna daqui me deixa tranquilo, calmo, me passa beleza", diz ele, que não se preocupa em fazer registros que possam ser considerados turísticos. Luís Henrique capta obras, movimento, capta o amor que carrega consigo. "Eu nasci aqui e gosto muito de Pouso Alegre", diz.

Compartilhe essa matéria: